Na Odisséia, um dos relatos mais antigos da história ocidental, Odisseu, o herói da epopeia, passa por diversos perrengues. Num deles, ele e parte de sua trupe de navegadores, em sua aventura de retorno ao lar, se vêem presos numa caverna. A caverna de Polifermo, um cíclope, gigante de um olho só e carnívoro. Com algumas artimanhas Odisseu cega o olho do gigante com uma estaca. O gigante louco de dor pergunta seu nome: ele responde NINGUÉM. Polifermo, então grita pelo socorro de seus irmãos, fora da caverna. Ele perguntam quem o cegou e o gigante responde: Ninguém! Ninguém!!!
Os gigantes convencidos de que ninguém o cegou, dão meia-volta, retornando a seus afazeres. Assim, Odisseu escapa, abandonando com sucesso a ilha que o encarcerava.
Keuner é Ninguém em alemão. Anti-herói, anônimo, filósofo vagabundo, primo irmão de Me-ti, outro filósofo-personagem ou personagem-filósofo inventado também por Bertolt Brecht. Me-ti tem a ver com outro personagem da mitologia grega, a Métis, deusa da sabedoria prática, aquela que inspira as soluções interditas, inauditas e amorais para os problemas do dia-a-dia.
Keuner ou Ninguém é o anónimo do dia-a-dia. Encarna o arquétipo de tantos outros filósofos vagabundos como Charlie Chaplin, Macunaíma, ou pensadores do paradoxo e da dialética como Manoel de Barros ou Chuang-Tzu entre outros.
Não importa!
Se Keuner é Ninguém, portanto não tem dono nem pátria. E é um personagem muito curiosa e rica, biscoito fino e pensante em épocas de riqueza global produzida a partir de caos social. Porque Keuner é o anónimo que reduzindo-se a sua menor grandeza consegue como cisco, escapar à fúria dos maremotos e das grandes catástrofes.
Euner é uma multidão ensaiando outros viveres.
Então, não há como não pensar em Keuner e seus sapatos andarilhos. Com humor e simpatia.
Marco Antonio Rodrigues (observação): a apresentação no TAGV é parte do processo que vem sendo desenvolvido na Disciplina Estágio do Curso de Teatro da Escola Superior de Educação de Coimbra. O espetáculo estreará e cumprirá temporada a partir de início de julho na Oficina Municipal de Teatro de Coimbra. Daí o título conter a palavra Fragmentos entre parênteses. A encenação nasce como adaptação de Histórias do Senhor Keuner, de Bertolt Brecht).
A partir de Histórias do Senhor Keuner de Bertolt Brecht
Encenação Marco António Rodrigues
Interpretação Ana Carolina Paulete, Beatriz Lourenço, Beatriz Melo, Carolina Carvalhais, Daniela Cardoso, Dinis Binnema, Dinis Ludgero, Elizabeth Furtado, Filipa Guia, Inês Valinho, João Alves, João Amorim, Rafael Cid e Sandy Quaresma
Assistente de encenação João Amorim
Desenho de luz Jonathan Azevedo
Cenário Dinis Ludjero
Figurinos Dinis Binnema e Filipa Guia
Adereços Rafael Cid
Som Daniela Cardoso
Fotografia Carlos Gomes (Imagem Fixa)
Comunicação e divulgação Carolina Carvalhais, Daniela Cardoso, João Alves e Sandy Quaresma
Atividades paralelas Ana Carolina Paulete e Beatriz Melo
Direção de produção Cátia Oliveira
Produção executiva Nuno Carvalho
Coordenação de produção Inês Valinho
Apoios e patrocínios Beatriz Lourenço e Elizabeth Furtado
DATA 19 junho 2015 21h30
LOCAL Auditório TAGV (lotação limitada)
CLASSIFICAÇÃO M/12
PREÇO 2€