Manhã (GEFAC)

São tantas as mulheres que se escondem sob as saias da memória: são santas, mães, adúlteras, virgens, perdidas; o corpo da fecundidade e o vulto enlutado da morte; a sabedoria serena, o desejo em que ardemos. As mãos que redimem são as mesmas que colhem o fruto da traição e do pecado, que nos dão o colo e o castigo madrasto, que amassam o pão que comemos, enquanto tangem, pela calada, as cordas da libertação. Poderão até ser as marias reais, que guardam a força constante e inquebrantável dos dias, ou as flores que sonhámos de uma beleza impossível, mas nunca deixarão de ter um nome e de o reclamar a viva voz. Como quem, cantando sobre a roda, faz correr a vida em vez de água, há mulheres que marcam com os seus pés o próprio passo do tempo, fiando com paciência o leito em que correm a tradição e a memória, e que nos há-de levar ao que somos. Trazem-no cerzido no corpo, o tempo que pesa, passa, e que há-de vir emprenhar o chão de que sempre nos erguemos, como um dia que não espera pra nascer.

Conceção artística GEFAC (criação coletiva)
Operação de vídeo GEFAC
Imagens GEFAC, MemoriaMedia
Desenho de luz Wilma Moutinho
Produção GEFAC


DATA 28 junho 2013 21h30

LOCAL Teatro da Cerca de S. Bernardo

CLASSIFICAÇÃO M/6

PREÇO 3€